quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Último Duelo, de Eric Jager


"sexo, selvageria e manobra politica de alto nível em uma esplêndida história"
A  opinião acima da renomada revista de resenha literárias Kirkus Reviews, sintetiza bem o teor desse livro

Em plena Idade Média francesa sob pena de ser condenada à fogueira por injúria e falso testemunho, uma mulher acusa o melhor amigo de seu marido de estuprá-la.

A mulher é Marguerite, filha única de uma rica e tradicional família normanda, Seu marido, o cavaleiro Jean de Carrouges é descendente de uma antiga linhagem de nobre. O acusado por sua vez, é Jacques Le Gris, de origem humilde, mas que fez grande fortuna e se tornou membro dileto da corte de um dos mais influentes condes da França.
Confiando na versão de sua esposa, carrouges apela ao rei levando a acusação ao parlamento de paris, que determina que o caso seja decidido em um "duelo judiciário" um combatente armado do qual um homem sairia vencedor apanas quando matasse seu oponente.

Essa história real e dramática acontece durante a devastadora Guerra dos Cem Anos, entre a França e a Inglaterra, enquanto tropas inimigas pilhavam terras,a loucura assombrava o trono Francês e o Grande Cisma dividia a Igreja ao mesmo tempo que exércitos muçulmanos ameaçavam o cristianismo e as rebeliões traições e pragas eram temores contantes


 No facebook você tem acesso à fanpage do livro com várias imagens e textos sobre a história

fonte:

http://www.historiarecord.com.br/

Barão de Mauá


                                                      
                                                                        Barão de Mauá
                                                                               
                                                                                

Em 1840 Irineu Evangelista visitou a Inglaterra e ao retornar casou-se com Maria Joaquina de Souza Machado ( sua sobrinha que tinha apenas 16 anos, vista na imagem de cima), O casal teve 18 filhos, dos quais 11 nasceram com vida.

Até a primeira metade do século XIX, o Brasil tinha grandes dificuldades para assentar o franco desenvolvimento de seu parque industrial. A carência de fontes de energia abundantes, a dispersão dos mercados consumidores, a inexistência de uma indústria de base e a falta de vontade política compunham uma gama de obstáculos que transformava os produtos brasileiros caros e de baixa qualidade. Contudo, a partir de 1840, essa realidade vigente ganhou outros contornos.


No ano de 1844, a criação da Tarifa Alves Branco elevou os impostos alfandegários sobre os produtos provenientes do mercado externo. Apesar de não ter esse objetivo, o imposto se transformou em uma eficiente barreira protecionista que abriu portas para o primeiro surto industrial experimentado na história do Brasil. Paralelamente a esta ação, devemos salientar que a proibição do tráfico negreiro e os lucros obtidos pelo café tiveram grande importância neste processo.



Nessa mesma década, um jovem chamado Irineu Evangelista de Sousa viajava a trabalho para a Inglaterra, berço da Revolução Industrial. Ao observar o acentuado desenvolvimento das indústrias daquele país e a pujança das teorias liberais, Irineu voltou ao Brasil determinado a buscar oportunidades de negócio que orbitavam fora da ordem agroexportadora. Para a época, as suas pretensões estavam bem distantes do pensamento de uma parcela considerável de nossas elites.



De origem humilde, este arrojado empreendedor saiu cedo da cidade de Arroio Grande para, com apenas doze anos de idade, trabalhar em uma loja de tecidos na capital federal. Apresentando grande tino para os negócios, ele logo arranjou outra colocação em uma empresa de importação. Foi nesse momento que Irineu entrou em contato com os valores e a lógica do capitalismo industrial que fervilhava nos centros urbanos ingleses.



Quando chegou ao Brasil, ele decidiu juntar seus recursos financeiros para adquirir uma pequena fundição localizada na região de Ponta da Areia, no Rio de Janeiro. Com o apoio financeiro de seu antigo patrão, Irineu Evangelista conseguiu meios para organizar o maior estaleiro de construção naval de todo o Império Brasileiro. Aproveitando dos bons ventos trazidos pelo surto industrial, seus empreendimentos deram boa resposta e abriram caminho para outras iniciativas. 



Em pouco tempo, o próspero empresário criou a Companhia de Rebocadores da Barra do Rio Grande e obteve uma concessão sob o tráfico no rio Amazonas. Paralelamente, sua empresa de siderurgia fabricava lampiões e tubos para a canalização de rios e pontes. No ano de 1851, conseguiu autorização para instalar um serviço de iluminação a gás que se estenderia pelas principais ruas da cidade do Rio de Janeiro. No ano seguinte, iniciou as obras de construção de uma ferrovia que ligava a capital ao Vale do Paraíba.  

                                                     

Em 1854 veio a já citada inauguração do primeiro trecho da ferrovia Rio-Petrópolis e o título pelo qual ficou conhecido, Barão. A locomotiva (foto acima),chamada de "baronesa" em homenagem à sua esposa, percorreu 15 quilômetros de trilhos em 23 minutos. Era a terceira ferrovia da América do Sul.
conseguido em 1882, quando a ferrovia já não pertencia mais a Mauá.
                 
Por meio da construção dessas e outras obras ferroviárias, o visionário Irineu conquistou o título de Barão de Mauá. Trabalhador incessante, ele também investiu em uma empresa de bondes puxados por tração animal e na construção de um telégrafo submarino que ligava o Brasil à Europa. Além disso, ele também atuou como financiador com a criação do Banco Mauá & Cia., que chegou a abrir dezenas de filiais no exterior.



Toda euforia experimentada nestas décadas chegaria até certo limite, quando a vigência da ordem agroexportadora entrou em conflito com seus interesses. Em 1857, a sua empresa Ponta da Areia foi alvo de um terrível incêndio. Pouco tempo depois, a vantajosas taxas alfandegárias da Tarifa Alves Branco foram abandonadas. Com o passar do tempo, Barão de Mauá não resistiu à concorrência imposta pelas mercadorias estrangeiras.

Em 1872, Mauá ainda realizou outro importante empreendimento, o cabo telegráfico submarino ligando o Brasil com a Europa e o imperador enviou mensagens ao papa e à rainha da Inglaterra, com esse feito, veio o título de Visconde de Mauá.


A partir de 1875, Mauá abandonou a condição de investidor ao decretar falência e vender as suas propriedades para quitar seu grande volume de dívidas. Em 1877, a Ponta da Areia fechou as suas portas e, no ano seguinte, o governo imperial se negou a prestar auxílio financeiro ao seu banco. Na década de 1880, Mauá abandonou seus empreendimentos e passou o resto de seus dias sobrevivendo como corretor de sacas de café.


                                                                                  

                                                           

                  Resumo do filme Barão de Mauá


Barão de Mauá foi o Primeiro empresário brasileiro, começou do zero, literalmente, se dedicou, arriscou e conquistou. Um verdadeiro exemplo para todos nós, com dedicação e força de vontade podemos ir muito além de onde imaginamos ser impossível chegar.

Barão de Mauá nasceu no Rio Grande do Sul, estudou em um internato até seus nove anos de idade, e logo depois teve seu primeiro emprego como caixeiro, onde se deu início ao seucrescimento rumo ao sucesso.

Uma das suas grandes virtudes era sua persistência, no mesmo dia em que seu primeiro filho foi enterrado, chegando em sua casa, já estava tendo outro filho com sua mulher, o que nos mostra sua vontade de nunca perder.

Mauá foi o primeiro maior empreendedor industrial do país, produzindo navios e caldeiras, entretanto sua prosperidade foi breve por causa da proibição da entrada de navios fora do país, com isso a empresa faliu.

Além de ser o dono do Banco do Brasil, onde também faliu devido aos concorrentes que viam o grande desenvolvimento de Mauá, e queriam de alguma forma impedi-lo, Barão de Mauá sempre demontrou ousadia e foi dono das oito maiores empresas do Brasil, sendo um homem de idéias inovadoras, brilhante, que trouxe a Revolução industrial para o Brasil e ajudou nosso país a chegar onde estamos hoje.
É de homens assim que o Brasil precisa, persistentes, inteligentes, espertos e ambiciosos. Infelizmente hoje em dia a maior parte da população brasileira quer ganhar a vida do jeito fácil e errado, são poucos os que se dedicam para garantir um futuro melhor e contribuir para o crescimento do país, assim como o Barão de Mauá contribuiu.
O filme nos inspira a ser mais ousado e arriscar mais. Se temos alguma idéia, algo que pode dar certo, temos que ir adiante e colocar nossas idéias em prática. Ficar apenas na teoria não dá. É por isso que poucos tem muito e muitos tem poucos. Esses poucos são persistentes e ousados, alguns errados e fora da lei, mas todos determinados naquilo que fazem. O que resulta num resultado satisfatório

                                                                Livro: Mauá - Empresário do império      
Descrição do livro:   
Pioneirismo, guerras, intrigas, reis e escroques: a carreira do visconde de Mauá (1813-1889) teve de tudo.Para montar a primeira industria - um grande estaleiro e uma fundição em Niterói -, a primeira estrada de ferro e o primeiro banco a operar em grande escala no Brasil, ele teve de brigar contra uma sociedade provinciana  que considerava o feitor de escravos como o melhor gerente de recursos humanos 

Quando expandiu seus negócios em escala planetária, com dezessete empresas em seis países, ai sim vieram os grandes adversários. Banqueiros internacionais, ditadores latinos políticos de alto coturno e figuras da sociedade passaram a fazer parte da luta diária do visconde, numa história que se confunde com a do próprio    nascimento de um país chamado Brasil.
formato 16,00 x 23,00 cm 

SOBRE O AUTOR:
Jorge Caldeira
Nasceu em 1955, é de São Paulo.Jornalista, é doutor em ciência politica e mestre em sociologia.
publicou a biografia de Noel Rosa, de costa para o mar, pela editora Brasiliense.

A Praça Mauá



                                                                 







A praça Mauá era de inicio um grande alagadiço a praia de Nossa Senhora, que depois ficou sendo conhecida como "Prainha" - o principal ancoradouro das embarcações que do fundo da Baía traziam alimentos para a cidade.
 A área circundante da Praça Mauá, ainda que muito descaracterizada devido ás inúmeras interferência até em sua topografia, ainda assim guarda alguns poucos sítios históricos do século XVI. Atualmente apresenta uma curiosa mistura: de um bairro de boates e inferninhos existentes graças à proximidade do porto do Rio de Janeiro e do outro, oferece o maravilhoso Mosteiro de São Bento, símbolo do Barroco e marco da ocupação da cidade.

                                                                                     
Barão de Mauá

O nome da praça decorre de homenagem ao Barão de Mauá, ou seja Irineu Evangelista de Souza, o maior empresário brasileiro no tempo do império. Aliás, no centro da praça, existe uma estátua do barão, que ali era proprietário de um trapiche (armazém) e de vários negócios ligados à área portuária. 
Um importante edificio da Praça Mauá, é o chamado edificio do jornal " A noite", com vinte e dois andares e constrúido no final da década de 30, possuindo um estilo art Déco com formas classicistas e simétricas, insperado nos prédios de Nova York.
 Este edifício era um dos pontos mais badalados da cidade, tornando-se o centro das atrações na época áurea do rádio quando lá passou a funcionar a Rádio Nacional a partir de 1936, com o atual processo de revitalização, redefinição urbanística e reaproveitamento da antiga área portuária do Rio de Janeiro, a Praça Mauá entrará em evidência novamente pois, como parte desses esforços, será construído no pier da Praça Mauá um Museu do amanhã, ou Museu do futuro, projeto do arquiteto e engenheiro espanhol, Santiago Calatravia.

Os jesuítas e a catequização dos índios no Brasil colônia





        
 A religiosidade sempre esteve presente no processo de colonização do Brasil. Sendo sobre a fixação em terra da primeira cruz, seguida da primeira missa proferida pelo frei Henrique de Coimbra em 1500 ou até mesmo muito antes disso com os ritos e cerimônias tupis.

Os lusitanos costumavam dizer que os índios não possuíam conhecimento de Deus e nem de outros ídolos, sendo que, muitas vezes foram associados a animais ou demonizados, alegando o colonizador que estes povos não possuíam alma.

 Para os índios não existia muita diferença entre a realidade acordada e a realidade dos sonhos: os pássaros, o mundo dos espíritos, o parto, a lua, tudo estava entrelaçado.

Outra coisa que causava a repugnância dos portugueses para com os índios era o fato desses nativos praticarem a antropofagia. Para os tupis, a mais honrada atividade era a guerra. Entre as pessoas da mesma tribo a convivência era pacífica e amigável, mas eram implacáveis no que diz respeito a grupos rivais.

Ao fim da “guerra”, os derrotados eram feitos prisioneiros e depois através de rituais, eram sacrificados e devorados. Os índios acreditavam que a força do guerreiro abatido passaria para aqueles que o comessem.

De início, os portugueses não tiveram muita dificuldade em conseguir a confiança dos nativos. Através de maravilhosos presentes (espelhos, tesouras, facas, panos, etc.), objetos que eram desconhecidos entre os indígenas, os europeus tornaram-se muito próximos desses povos.

 Pouco depois esses objetos já não eram adquiridos tão facilmente, os nativos tiveram que dar algo em troca, como mulheres, mão-de-obra, pau-de-tinta, etc, implantando-se assim a prática do escambo.


A Igreja, representada pelos jesuítas chegou com uma enumerada quantidade de devoções.A missa, a comunhão, a confissão, o batismo, a oração, o casamento, a penitência, foram alguns instrumentos da catequização que no decorrer da Colonização foram assimilados ou rejeitados pelos índios.

Os jesuítas

Os jesuítas faziam parte de uma ordem religiosa católica chamada Companhia de Jesus que foi fundada em 1534 por um grupo de estudantes liderados por Inácio de Loyola, sendo aprovada pelo Papa Paulo III em 1540.

Criados com o objetivo de espalhar a fé católica pelo mundo, os jesuítas eram subordinados a um regime de privações, preparando-os assim para viverem em locais distantes, adaptando-os às mais adversas condições.

Em 1549, a mando do Rei Dom João III, os primeiros jesuítas desembarcaram no Brasil, liderados por Manuel da Nóbrega (sacerdote português). A catequização dos índios era uma das obras colonizadoras mais desejadas pelo Rei, obra que atenderia não só os objetivos da colonização como também aos intentos de uma sociedade sagrada, portanto, obra de Deus. O padre Simão de Vasconcelos reafirma:

“À Alteza del-Rei Dom João III que então vivia, Príncipe tão pio, e inclinado a propagar a fé, que se lhe ouvira muitas vezes, que desejava mais a conversão das almas, que a dilatação de seu império.

 E com esta disposição da parte do Rei, e obrigação de nosso Instituto, foi fácil ajustar os intentos, e concluir, que se expedisse uma gloriosa missão a partes tão necessitadas.

 E consultando o negócio com os Padres mais graves, com o mesmo Rei D. João, e mais eficazmente com a Majestade divina, caiu a sorte venturosa sobre o Padre Manuel da Nóbrega. (José Maria de Paiva. Transmitindo Cultura:

 “A catequização dos índios do Brasil, 1549-1600”. Revista Diálogo Educacional. P. 1-22)

O Padre Manuel da Nóbrega foi um dos principais jesuítas que desembarcaram na Bahia. Depois de algum tempo, vieram outros jesuítas que foram historicamente importantes como José de Anchieta e Antônio Vieira.

Durante o tempo em que os jesuítas permaneceram no Brasil, foram criados colégios, igrejas, capelas, onde os nativos e os descendentes de portugueses recebiam instrução e formação.                                

                                                  PARA SABER MAIS

                                                                                           


Padre Manuel da Nóbrega


      Filho do desembagador Baltasar da Nóbrega, estudou humanidades no Porto e freqüêntou como bolseiro régio as faculdades de Cânones de Salamanca e Coimbra, onde obteve o grau de bacharel em 1541.

 Entrou na Companhia de Jesus, já Sacerdote, em 1544, tendo efetuado missões pastorais na Beira e no Minho. 

A pedido de D. João III, integrando a armada de Tomé de Sousa, chefiou o primeiro grupo de inacianos destinados oa Brasil, onde chegou em 1549.

Defendeu a liberdade dos índios; favoreceu os aldeamentos, em estreita colaboração com o governador; cultivou a música como auxiliar da evangelização; promoveu o ensino primário através das escolas de ler e escrever e fundou pessoalmente os colégios de Salvador, de Pernambuco, de São Paulo, origem da futura cidade, e do Rio de Janeiro, onde exerceu o cargo de reitor.

 Ajudou a expulsar os estrangeiros da baía da Guanabara, contribuindo para o robustecimento do poder central e para a unificação política do território.

O seu pensamento encontra-se expresso nas Cartas, nos Apontamentos e sobretudo no Diálogo sobre a Conversão do Gentio.

Faleceu no Rio de Janeiro, em 1570, no dia em que completava 53 anos de idade.

Fonte: Instituto Camões
                                                                          




A Catequização

Uma das principais tarefas dos jesuítas seria trazer os índios para a “verdadeira” fé cristã.

Tarefa que se mostrou de difícil execução no decorrer do processo. Para os jesuítas, extinguir costumes como a nudez, a poligamia, a antropofagia, entre outros, seria de extrema dificuldade, pois acreditavam que os índios estavam sendo governados pelo demônio, portanto, um trabalho longo e perigoso, que acabou forçando os padres inacianos a se adequarem àquela situação.

“No contexto da catequese, não resta dúvida de que os nativos assimilaram mensagens e símbolos religiosos cristãos, sobretudo por meio das imagens, mas é também certo que os jesuítas foram forçados a moldar sua doutrina e sacramentos conforme as tradições tupis.” (Ronaldo Vainfas. A heresia dos índios. P. 110)

No decorrer da catequização, houve uma série de resistências por parte dos índios, pois era difícil assimilar os diversos gestos sociais portugueses como, o trabalho braçal, adesão a doutrina católica, mudanças de costumes, um verdadeiro aportuguesamento forçado.



O Batismo

Para os jesuítas, o batismo significava a transformação dos costumes, a entrada para a sociedade portuguesa, mesmo esta idéia não sendo tão aceita pelos indígenas. De início, os batizados eram feitos de modo individual ou em pequenas quantidades. Com o decorrer do tempo e com o aldeamento – já que muitas tribos eram nômades – começaram a se batizar em massa, chegando a batizar mais de mil índios juntos.

“Serafim Leite calcula que, entre 1558 e 1566, se batizaram entre doze a quinze mil índios.” (José Maria de Paiva. Transmitindo Cultura: “A catequização dos índios do Brasil, 1549-1600”. Revista Diálogo Educacional. P. 1-22)

Além de ser inserido em uma nova religião, o batizado também ganhava um novo nome (nome português), deixando pra trás o seu nome antigo, incluindo-se assim os nativos em uma “nova sociedade”.

Mas a inclusão desses indígenas nessa nova sociedade e principalmente em uma nova religião, não se dava de um dia para o outro. Exigia-se demais dos índios uma demonstração de fé a que eles não conseguiam assimilar, reduzindo a fé a um sentimento decorado, deixando claro para os jesuítas, como seria árduo o processo de catequização.

Durante todo o percurso percorrido pelos padres inacianos, foram utilizados vários artifícios a fim de converter os nativos, fazendo com que eles aceitassem a fé cristã através do batismo. Um dos recursos muito utilizados pelos padres eram as doenças.

 Os jesuítas usavam muitas vezes doenças que eram trazidas pelos brancos portugueses (varíola, sarampo, gripe) para semear a mística do salvamento pelo único Deus, tomando-se assim a doença como uma das bases para que os índios compreendessem que somente o Deus Católico seria capaz de curar e salvar a alma.

“Correspondência, livros de catequese, sermões e outros registros datados dos séculos XVII e XVIII revelam o trabalho dos jesuítas da Província Eclesiástica do Paraguai, atualmente parte do território da Argentina, do Paraguai e do Brasil.

 Eles tentaram implantar entre os indígenas abrigados nos povoados missionais (Guarani, Jê e Pampianos) noções de pecado, culpa e castigo. E a ação nefasta de doenças epidêmicas teve sua valia nesse esforço catequista.” (Jean Baptista. Epidemias nas missões jesuíticas. Revista História Viva. P. 69)

Os padres utilizavam as epidemias como estratégia religiosa. Os indígenas interpretavam as doenças como a manifestação dos deuses decorrentes da insatisfação do comportamento humano. Mas como os índios não possuíam defesas biológicas para combater estas doenças contraídas do homem branco, os padres faziam por aproveitar para usar este mal como forma de mostrar a fragilidade dos deuses pagãos e desse modo, incutir na cultura religiosa indígena a idéia de um único Deus, o Deus do Catolicismo.

“Os deuses ameríndios são mais fracos que o Deus verdadeiro – eis o princípio da argumentação de missionários ativos na América Colonial quando o assunto era varíola, sarampo ou gripe.” (Jean Baptista. Epidemias nas missões jesuíticas. Revista História Viva. P. 69)




Padres x Pajés

O que muito se viu na colonização em termos de religiosidade, foi uma certa disputa pela liderança espiritual dos nativos.

 Os pajés, que segundo os índios eram os representantes escolhidos pelos deuses para passar a profecia, sendo uma figura de extrema importância dentro das tribos indígenas, responsáveis por passar adiante a cultura, as tradições e a história de seu povo.

Exerciam também a função de curandeiros, pois conheciam muito bem o poder de cura de ervas e plantas. Os pajés encontraram nos padres inacianos fortes oponentes no que diz respeito à soberania religiosa.

 Os jesuítas procuravam de todo modo diminuir o poder xamânico, demonizando-os e atribuindo muitas vezes as epidemias decorrentes de doenças trazidas pelos brancos europeus, aproveitando do pouco saber sobre essas doenças para delegar aos pajés a culpa e ao mesmo tempo mostrar que estes “feiticeiros” não tinham poder algum para ser guia espiritual dos índios, pois os próprios eram passivos de contaminação.

“Eles foram descritos na documentação católica da época como diabólicos opositores do projeto missional. Não por acaso, os religiosos diziam que a mata habitada por xamãs era incubadora das epidemias.” (Jean Baptista. Epidemias nas missões jesuíticas. Revista História Viva. P. 70)



A Santidade Ameríndia

Embora os índios não tivessem deuses nem ídolos, mesmo assim eles tinham seus ritos e sua santidade. Santidade esta, que foi motivo de muita controvérsia.

 A santidade ameríndia embora contasse com uma série de características da religião católica, pode se dizer que foi um processo de resistência indígena à catequização jesuítica.

Segundo Vainfas, os colonizadores ficaram impressionados com estes rituais tupis, denominados santidade, considerando a santidade ameríndia como um tipo de revolta e até mesmo heresia indígena.

A denominada santidade que os autores quinhentistas atribuíam à cerimônia indígena acabou se tornando uma disputa entre jesuítas e nativos. O uso da expressão causava controvérsias, pois foram os próprios inacianos que haviam atribuído essa expressão à cerimônia tupi, a qual era julgada como diabólica.

Para os nativos esta santidade era a constante procura da “Terra sem Mal”, um lugar sagrado que se renova eternamente, uma busca à sociedade da felicidade divina e o abandono da terra má, a sociedade tal qual eles viviam.

Em relato de Manuel da Nóbrega ele mostra muito bem o que seria a “Terra sem Mal” que os índios tanto idealizavam.

“No plano das crenças, a mensagem veiculada pelo profeta/feiticeiro aludia, sem sombra de dúvida, a Terra sem Mal: lugar de abastança, onde os víveres não precisariam ser plantados, nem colhidos, e as flechas caçariam sozinhas no mato; fonte de imortalidade, de eterna juventude, onde as velhas se tornariam moças, espécie de juventa tupi.” (Ronaldo Vainfas. A heresia dos índios. P. 53)

De certo modo, a busca da Terra sem Mal significava uma “guerra” contra o colonizador e suas imposições.

As cerimônias tupis denominadas de santidades, além de serem vistas como um ritual, também foram percebidas pelos portugueses como um movimento, como uma ação coletiva dos índios no sentido de migrações, rebeliões e assaltos contra o colonizador.

“A primeira notícia de migrações fugitivas provém de Gandavo, que aludiu ao percurso de um grupo de índios que partiu do Brasil sertão adentro rumo ao Peru, acrescentando que o intento deles não era outro senão buscar sempre terras novas, a fim de lhes parecer que acharão nelas imortalidades e descanso perpétuo.” (Ronaldo Vainfas. A heresia dos índios. P. 64)

Uma das mais importantes santidades ocorreu no recôncavo baiano, principalmente em Jaguaripe. A partir daí praticamente todo litoral brasileiro passou a conhecer o termo santidade.

Muitos cronistas também descreveram a cerimônia tupi. Diversas narrativas foram feitas com respaldo nas correspondências e escritos de jesuítas como Anchieta, Cardim, Pedro Correa e outros durante os anos de 1550 e 1560.

Outro papel importante da santidade ameríndia era a prática do “rebatismo”. Usado como forma de anular o sacramento católico e trazer de volta o nativo para a “verdadeira” santidade, pois diziam os índios que a fé cristã era falsa e não merecia que nela se acreditassem.

“Aos olhos dos índios, se o batismo dos padres lhes trazia a morte – morte real e simbólica – o rebatismo da santidade significava para eles a vida eterna na terra da imortalidade.” (Ronaldo Vainfas. A heresia dos índios. P. 121)

O rebatismo das santidades se efetuava com o uso da água (mostrando muito bem a conectividade com práticas do batismo católico) e o fumo, muitas vezes mudando o nome cristão do rebatizado. Ao extirpar o nome cristão do índio, adotava-se outro em sua língua, reeditando-se assim a cultura tupi e exorcizando a outra.



Conclusão

No decorrer deste trabalho pude notar certa disparidade entre as bibliografias por mim utilizadas, com a história que estudamos no ensino fundamental e médio. A atitude dos jesuítas e de outros missionários foi um tanto quanto duvidosa em relação à questão indígena.

Se de um lado os jesuítas se posicionaram contra a escravização ameríndia, por outro, foram coniventes ao confinarem os nativos nos chamados aldeamentos cristãos, onde, através das catequeses, obrigavam estes povos a abandonar seus modos de vida, suas andanças pelas matas, suas lideranças espirituais, suas crenças e ritos.

No que diz respeito ao contexto da colonização no Brasil, a pregação da religião foi apenas um elemento do conjunto de recursos utilizados para se conseguir os objetivos que a parte dominante tanto almejava.

 A catequese serviu como instrumento para a imposição dos usos e costumes portugueses, procurando com isso uma certa domesticação e adestramento dos nativos para se adquirir não só a conversão das almas, mas também a utilização econômica daquela mão-de-obra ali disponível.

Por outro lado, essa imposição não foi recebida pelos índios sem nenhum tipo de resistência. A busca pela Terra sem Mal, por exemplo, foi uma das principais oposições dos nativos a escravização que os colonizadores portugueses os submeteram. A procura da Terra sem Mal se caracterizou pela fuga indígena dos principais centros de colonização. Isso deixa claro que, se os índios cederam a imposição portuguesa, não foi porque quiseram e sim por impotência.

É de se estranhar que até hoje os livros didáticos não abordem esses temas, que, se for levar em consideração, nos mostraria uma outra face do que foi o processo colonizador, ou no mínimo nos daria assunto para uma longa discussão.



Referências Bibliográficas

VAINFAS, Ronaldo, A heresia dos índios - catolicismo e rebeldia no Brasil Colonial, São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

PAIVA, José Maria de (2000). Transmitindo Cultura: A catequização dos índios no Brasil, 1549-1600. Revista Diálogo Educacional - v. 1 - n.2 - p.1-170 - jul./dez. 2000.

BAPTISTA, Jean. Epidemias nas missões jesuíticas. História Viva, São Paulo, nº. 67, p. 68-73, Maio 2009.











Fraude na morte de Santos Dumont


                                              CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E HISTÓRICO DA AERONÁUTICA

                                              
                                                              Inventor também de modas: na juventude, ele esbanjava estilo 
                                                             O laudo  fantasioso, providência moralista para disfarçar o suicídio
                                      
O laudo necrológico do “pai da aviação” é uma mentira histórica. Ele jamais teve um “colapso cardíaco”. Na verdade, se enforcou no banheiro de um hotel no Guarujá (SP)

"Guarujá - Alberto Santos Dumont - 23-julho-1932.Alberto Santos Dumont - Brasileiro, branco, solteiro, com 59 anos de idade, inventor. Ao que consta, foi encontrado morto em um dos apartamentos do hotel de La  plage, no Guarujá, onde residia. Trata-se do cadáver de um homem de estatura mediana e de constituição regular, ainda em estado de flacidez muscular. Veste terno de casimira preta, gravata preta e calça botinas pretas. Não encontramos pelo corpo vestígio de lesão traumática. A morte se deu por colapso cardiaco".

A morte do genial Alberto Santos Dumont foi por décadas edulcorada e relacionada a seu desgosto pelo uso de aviões para fins militares. Nos anos 60 e 70, professores nem mesmo falavam a palavra “suicídio” em sala de aula. Tudo para que o fim de um dos poucos heróis nacionais, capaz de inspirar os pequenos e motivar os adultos, fosse digno de sua biografia. A dar guarida oficial às versões “moralmente elevadas” do desaparecimento do aviador havia um laudo necrológico, assinado pelo legista Roberto Catunda, que indicava morte por “colapso cardíaco”. Uma fraude.

Santos Dumont morreu em 23 de julho de 1932, no banheiro do Grand Hôtel de La Plage, na cidade balneária de Guarujá (SP). Há controvérsias sobre o material utilizado como corda: o cinto do roupão ou uma gravata. Tinha apenas 59 anos. Muitos pesquisadores se debruçaram sobre esse episódio, ainda hoje mal explicado. Só o que se tem é de certeza é que, sim, foi suicídio por enforcamento. Permanecem no campo da especulação as razões do ato extremo.

A ideia de forjar o laudo necrológico teria sido partilhada por autoridades governamentais e familiares do inventor. A família teria insistido na dispensa da autópsia, e, para a polícia, ceder a esse pedido seria atitude humanitária e honrosa, opinião também do governo paulista, que teria impedido a abertura de um inquérito. Ajeitados os trâmites, a fraude ficou, e a verdade só aos poucos foi sendo descoberta.

Tanto cuidado se justificava, então, pela importância de Alberto Santos Dumont. Até aquele momento, brasileiro nenhum havia tido tamanha expressão internacional. Não bastasse ser genial, era ainda rico e alinhado conforme a moda do tempo – ou melhor, à frente dela, dado que seu lado inventivo se manifestou também no estilo de roupa e acessórios que usava.

Hoje se diz, com base em relatos, que o glamour que o aviador esbanjava escondeu por décadas episódios de depressão profunda ou de uma doença psíquica mais grave – e incontrolável para a medicina da primeira metade do século XX, como seria o caso de transtorno bipolar. Não há ainda hoje um diagnóstico fechado, apenas a evidência de que essa pode ser sido uma causa importante, entre outras, para que cometesse suicídio.

Que havia uma doença psíquica a atormentá-lo, disso não há dúvidas. Cartas, internações repetidas na Europa, recibos de compra de remédios e de consultas a psiquiatras indicam esse estado, presente em quase toda a sua maturidade – entre 1910 e 1932. Os documentos pertencem hoje ao acervo da Aeronáutica.

No dia da morte, Santos Dumont havia aproveitado a natureza: conta-se que deu um passeio pela linda praia de Pitangueiras, andou de charrete e retornou ao hotel para almoçar. Passou pelo quarto e de lá não desceu. Funcionários do hotel o encontraram já morto.

                                                                            CRONOLOGIA

1873 - nasce em palmira (MG), filho de próspera família cafeicultora

1898 - Constrói o "nº 1" o primeiro de 13 balões dirigíveis com sua assinatura

1906 - Constrói um biplano, o 14 - Bis, com o qual consegue se manter no ar

1907 - Constrói o monoplano Demoiselle

1910 - Anuncia o fim da carreira de aviador

1926 - Interna-se num sanatório na Suíça

1929 - Nova internação, agora na França

1932 - Muda-se em Maio para o Guarujá: em Julho, comete suicídio